segunda-feira, 16 de maio de 2011

Fotografia e Documento – As aparências Enganam?

Foto: Deanna Buono Campos©2001
Fotografia e Documento – As aparências Enganam?
Fatima Alessandra Deanna Buono Campos


A fotografia tem sido utilizada como documento e registro de documentação já faz algum tempo. Além de ser um importante meio de fixação da memória de uma sociedade, ele ainda acumula o mérito de ser isenta de enganação e idônea. Com a melhoria das técnicas de manipulação de imagem e o desenvolvimento de diversos softwares que são capazes, entre muitas outras coisas, colocar, mover, apagar, adicionar, mudar a cor, a forma e até a estrutura da fotografia, essa idoneidade, porém, acaba perdendo seu sentido.
Por conta disso, muitos países, como França, Inglaterra e Brasil, debatem, atualmente, propostas de lei a fim de tornar visível ao público a manipulação existente, processada por programas de edição de imagem (MENEGHETTI, acesso em 2011).
Segundo Meneghetti (acesso em 2011) o famoso ditado popular (As Aparências Enganam) já dizia muito a respeito sobre as aparências e as incertezas que elas nos causam. Ele é irredutível, já nos pontua de modo incisivo sobre a veracidade e confiabilidade do que captamos visualmente. Mesmo assim, a fotografia ainda serve como deflagrador de aspectos coercitivos de padrões de beleza, de felicidade, entre outros, sobre os receptores (nós), fazendo com que esses se sintam pressionados a corresponderem às concepções divulgadas nos diversos meios (O Estado de S. Paulo, 2009). Apesar desses fatores, em alguns casos a edição de imagens pode ser essencial para a manutenção da linha de coerência de sua identidade como meio de comunicação. Por exemplo: Jane Druker editora da revista norte-americana Healthy confirma claramente o uso da edição da fotografia da modelo de Kamilla Wladyka, com o intuito de esconder sua magreza. De acordo com a editora, a modelo parecia bem – segundo o conceito de saudável da revista – quando foi apontada como a modelo de capa da revista, entretanto estava muito magra no dia da sessão de fotos: “ela era muito bonita de rosto, mas muito magra e não parecia nada saudável. Isso não reflete o que nós fazemos na nossa revista, que é sobre saúde” (Folha Online, 2010b).
Em conformidade com as discussões na Europa, o Brasil, através de alguns seus parlamentares, entrou na briga, cogitando a criação de uma lei que exigisse que todo anúncio de publicidade alegasse explicitamente o uso de edição de imagem caso esse processo fosse utilizado na elaboração da peça publicitária. O presidente do CONAR (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária), Gilberto Leifert, mostrou-se indignado quanto à proposta parlamentar, declarando a imediata ineficácia dessa medida na promoção de mudanças significativas: “a lei do Photoshop não faz nada, não vai mudar nada” (Folha Online, 2010a).
Outra vertente prega, entretanto, que a fotografia é uma fonte, muitas vezes a única, de experiência visual que nos leva a reviver o passado. Estamos envolvidos afetivamente com essas imagens que nos mostram como éramos, como vivíamos e nossos ancestrais, amigos, cidades. Como uma espécie de trama que nos leva a épocas e lugares. A história de nossa vida (MIGRAM 1977).
De outra forma, muitos documentos são corroborados e certificados através da presença de fotografias, por exemplo: microfilmagens de documentos, fotografias do local de um crime (feita pela perícia), que se tomarmos ao pé da letra a desconfiança de veracidade destes, como haveríamos de citar ou averiguar as situações descritas acima? Se duvidamos da imagem que pode ser manipulada, podemos chegar ao extremo de duvidarmos da própria palavra (testemunho) que ela traz. Nos recordemos de fatos como disco voadores, dinossauros, monstros, fantasmas, criados por nossas imaginações férteis e fotografados por mãos habilidosas, ora manipuladoras, ora enganadas pela própria imagem e mais tarde desmitificados por tecnologias e estudos mais apurados, ou talvez, céticos.
Utilizar a fotografia como documento, portanto, depende de uma série de fatores, um deles é a ética, necessária para que este não perca a credibilidade como registro de importância, isento de manipulações. Mesmo assim ainda nos resta acreditar na própria imagem que por si só não prova nada exceto que as aparências podem, por mais verossímeis que nos sejam, enganar até mesmo seu criador.


Bibliografia:

O ESTADO DE S. PAULO. Europa quer proibir Photoshop. Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2009/10/02/europa+quer+proibir+photoshop+8720937.html>. Acesso em 09/05/2011

FOLHA ONLINE a. Fotos e anúncios poderão ser obrigados a informar o uso de retoques. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u722570.shtml>. Acesso em 09/05/2011

_________ b. Revista altera imagem de modelo para disfarçar magreza excessiva. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u736905.shtml>. Acesso em 09/05/2011

MENEGHETTI, Maria Eduarda Zorél. As aparências enganam? Reflexão sobre a manipulação de imagens na atualidade. Semeiosis: semiótica e transdisciplinaridade em revista. [suporte eletrônico] Disponível em: <http://www.semeiosis.com.br/as-aparencias-enganam/>. Acesso em 04/05/2011.
MIGRAM, S. 1977. “Um Psicólogo Olha para a Câmara Fotográfica”, Diálogo, 10(3):42.

Nenhum comentário:

Postar um comentário